Esqueça aquela antiga ideia que nos foi passada lá atrás de que o hemisfério esquerdo do nosso cérebro é responsável apenas pelas funções que envolvem a razão, enquanto o direito processa somente nossas emoções.
Na verdade, ele é muito mais audacioso e complexo do que isso!
Neste post falaremos sobre:
- Neuropsicologia, a mais nova das neurociências
- Localizacionismo e Frenologia
- Como nosso cérebro ouve música
- Mas afinal, de onde vem a nossa consciência?
Para começar, o cérebro humano opera a partir de múltiplas conexões e em formato de rede que envolvem os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo. De fato, existe uma predominância hemisférica para cada uma das funções realizadas pelo cérebro, porém, elas também precisam do outro hemisfério, trabalhando em conjunto, para funcionar plenamente.
Neuropsicologia, a mais nova das neurociências
O conceito atual da neuropsicologia, a mais nova das neurociências, é de que as funções elementares são regionalmente delimitadas. Isso significa dizer que quanto mais simples é uma função, mais circunscrita ela é no cérebro. Ao contrário disso, os processos mentais mais complexos, acabam sendo mais difusos e exigem um recrutamento maior de redes sinápticas para seus processamentos.
Localizacionismo e Frenologia
Mas vamos voltar ao conceito da hiperespecialização dos hemisférios cerebrais que vigorou até meados do século XIX, com o Localizacionismo, que sustentava a ideia de que cada região do cérebro era responsável por uma função específica e a Frenologia, que determinava a personalidade e o caráter de um ser humano com base na forma detalhada do crânio.
Nesta época, dois grandes neurologistas tiveram papéis fundamentais para o avanço das neurociências nas décadas que se sucederam. Paul Broca, na França e Karl Wernicke, na Alemanha, chamaram a atenção do mundo da medicina com estudos sobre doentes com lesões cerebrais.
Broca, em 1861, descobre que o hemisfério esquerdo do cérebro cumpre um papel dominante na produção da linguagem e, em 1874, Wernicke revela uma outra área do cérebro responsável pela compreensão da linguagem.
A grande descoberta dos dois, no século passado, foi o primeiro passo para a revelação que o hemisfério esquerdo, por exemplo, é dominante no que diz respeito a nossa linguagem, execução de atividades lógicas, pensamentos lineares e analíticos e é sensível a passagem de tempo. Já o hemisfério direito, é dominante para percepção da forma e do espaço, pensamentos analógicos, atribuição de símbolos, percepções sensoriais e à música, curiosamente.
Como nosso cérebro ouve música
E por falar em música, vejam este exemplo incrível, que com a evolução dos estudos realizados por eles e por outros cientistas, comprovou que as redes neurais são ainda mais complexas e interagem entre si o tempo todo, fazendo conexões instantâneas entre os dois hemisférios.
A melodia de uma música é processada pelo hemisfério direito, que é dominante para a percepção das notas musicais, digamos assim. Já a letra da música é processada pelo hemisfério esquerdo que é dominante para a percepção da linguagem.
Isso quer dizer que ao nos extasiarmos com uma canção, nosso cérebro está em plena atividade em toda a sua totalidade.
Como já foi dito no início, nosso cérebro é organizado a partir de uma rede de conexões cerebrais que tem as capacidades de se construir e de se reconstruir a partir de múltiplas excitações, estímulos e inputs inibitórios.
Contudo, a visão “Integracionista” do funcionamento cerebral – cérebro como um conjunto que origina uma atividade psíquica única e que não se decompõe, somente surge após o caso Phineas Gage, em 1948. Um jovem americano considerado, na época, bastante equilibrado, responsável e centrado.
Gage exercia, na época, uma função muito sensível e perigosa, trabalhava em uma ferrovia e era responsável por carregar explosivos e detonar rochas para que os trilhos fossem construídos. Em uma explosão acidental, uma barra de ferro atravessou o seu crânio.
Surpreendentemente, ele não só não veio a óbito, como se levantou e saiu caminhando sem apresentar nenhuma sequela aparente.
Com o passar do tempo, o comportamento de Phineas Gage mudou completamente, ele se tornou agressivo, irresponsável, impulsivo e perdeu grande parte do seu tato social.
O “Caso de Phineas Gage” forneceu os primeiros materiais para pesquisas e debates no século atual sobre a “personalidade como produto do cérebro” com as relações mente-cérebro.
Mas afinal, de onde vem a nossa consciência?
Para o neurocientista Eric Kandel, premiado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2000, por descobertas envolvendo a transmissão de sinais entre células nervosas no cérebro humano, a empolgação evidente nas neurociências, atualmente, se origina da convicção de que, por fim, temos ferramentas adequadas para investigar empiricamente o órgão das funções mentais e, eventualmente, desvendar os princípios biológicos que são a base do comportamento humano.
Bem longe das antigas discussões sobre as funções de cada hemisfério do cérebro, a neurociência hoje, está em busca de desvendar e explicar cada vez melhor, os instigantes mistérios da consciência humana.
Já sabemos que ela não é uma propriedade exclusiva do cérebro, que envolve apenas um grande número de células nervosas e um sistema complexo de difusão de informações. O mundo externo e as experiências individuais também são responsáveis por cada mente, o que torna cada uma delas única neste mundo.
No passado, os neurobiólogos não se preocuparam com a questão da subjetividade na experiência consciente. Eles se concentraram na compreensão dos correlatos neurais da consciência, o padrão de atividade neuronal associado a uma experiência consciente.
Hoje, temos evidências mais do que comprovadas, de que a mente de cada um de nós é o resultado da soma das nossas potencialidades, que incluem nossa neurobiologia, questões genéticas… e das nossas possibilidades, onde estão presentes nossos afetos, ambientes externos, estilos de vida que adotamos…
Isso nos traz a certeza de que devemos cuidar deste nosso poderoso órgão com muito amor e zelo para que ele nos responda com todo seu potencial.
Não espere que seu cérebro te faça feliz. É evidente que ele não veio ao mundo para isso, tem muito com que se ocupar: seus estresses, medos, aprendizados, suas funções vitais…
Tome a iniciativa de tentar fazê-lo feliz e você se surpreenderá com a vida que lhe será presenteada por ele!